sábado, 14 de setembro de 2013

There and back again

Ainda é comum eu ouvir das outras pessoas algumas informações incorretas e preconceituosas sobre homossexualidade. Que é uma escolha. Que é um comportamento. Que é um trauma. Que é uma perversão. Que é só sobre sexo. Que é uma condição inferior. Que é possível, se não desejável, mudar. Em alguns casos eu sei que as pessoas falam isso por pura maldade, pra tentarem se sentir bem consigo mesmas denegrindo outras pessoas. Mas em outros, sei que elas só estão repetindo as informações que receberam do mundo. Lembro que eu mesmo já acreditei nelas, mas só pude desfazê-las porque minha experiência de vida as provou erradas, e que essas pessoas não passaram, nem nunca passarão, por o que eu passei. E eu também sei que, sem passar por uma experiência, é difícil entendê-la em sua totalidade; para isso, temos que nos esforçar de verdade, num exercício extremo de empatia, para ouvir e de fato processar os sentimentos dos outros, como se fossem nossos próprios. Foi então que surgiu a ideia de compartilhar a história da minha vida.

***

Eu tinha 12 anos, ainda era uma criança, quando aconteceu pela primeira vez. Nunca antes eu havia sentido qualquer coisa por outra pessoa. Mas naquele dia aconteceu. Lembro claramente da sensação: achei aquela outra criança bonita e tive vontade de estar junto dela. Foi só isso, mas pelos vários relatos que já li por aí, acho que é a descrição da primeira paixão. E eu senti isso por outro menino.

Na época eu não sabia interpretar o que estava sentindo. Além de ser a primeira vez, eu nunca havia ouvido falar de um menino se apaixonar por outro; era a década de 90 e eu morava no interior. Sim, eu já tinha ouvido falar de gay, mas a informação que eu tinha era que "gays eram homens afeminados que faziam sexo com outros homens, assumindo o papel da mulher". Ora, não tinha nada a ver comigo, muito menos com o que eu havia sentido. Então eu entendi que apenas tinha gostado dele como um potencial amigo. Também não fez muita diferença, porque só o vi naquele dia, e depois a sensação passou, e não pensei mais naquilo por um tempo.

Mas aconteceu de novo. E de novo. E de novo. E o sentimento era sempre o mesmo, eu achava os meninos bonitos e queria estar perto deles. Mas eu continuava interpretando como desejo de amizade.

Acho que foi por volta dos 15 anos, no auge da puberdade, que começou a aparecer a atração física. Então eu tive outro dilema pra resolver: ser gay continuava sendo só sobre sexo, mas não era aquilo que eu queria pra mim. Sempre quis chegar ao sexo (e até ao beijo) de forma natural, através do afeto, através da intimidade crescente; nem passava pela minha cabeça fazê-lo por pressão social ou só pela experiência. Eu estava interessado no amor. Mas como amor homossexual "não existia", eu inventei outra desculpa pra mim mesmo: o que eu sentia não era desejo, mas vontade de ser como eles, de ter um corpo bonito, "que cara não gostaria de ser assim?"

Eu também tinha outra justificativa interna pra manter minha ilusão: também achava meninas bonitas. (Mas, como eu disse uma vez pra terapeuta, com os meninos era diferente, "alterava a respiração". Acho que todo mundo conhece essa sensação e sabe como ela se chama.) Ainda assim, eu olhava pras meninas sem o menor interesse sexual, a beleza que eu reconhecia era meramente estética. Até tive uma fase de emprestar edições de Playboy dos amigos, mas meu interesse erótico nas fotos era nulo. Só que eu imaginava que o desejo ia aparecer a partir do momento em que eu achasse a "menina certa", e quem sabe era eu que era exigente demais... Além do mais, como eu ia saber que os outros meninos, meus amigos inclusive, não sentiam exatamente a mesma coisa que eu?

Entre os 13 e os 15 eu tive uma fase de sucesso entre as meninas. Várias se declaravam apaixonadas por mim, mas eu fugia de toda e qualquer situação que pudesse parecer mais íntima ou promover um beijo, porque eu não me sentia nada confortável naquela situação; no fundo, aquilo não era nada natural pra mim, era como se eu estivesse me forçando a fazer algo que meu coração não queria. E eu continuava acreditando que a razão era que a menina certa ainda não era nenhuma delas...

No final do segundo grau, quando eu tinha 17, conheci uma menina com quem simpatizei, ela era bonita e amigável, e resolvi romper minhas resistências e tentar avançar um pouco. Mas, de novo, no momento crucial, aquilo tudo era tão desconfortável que eu inventava qualquer desculpa pra não estar mais lá. Quando entrei na faculdade e fui morar em outra cidade, ainda não tinha acontecido nada entre a gente, e continuamos conversando por cartas, mas em pouco tempo ela começou a namorar outro cara.

A faculdade foi um período meio difícil por outras razões, eu tinha pouco dinheiro e poucas oportunidades de sair. Mas isso acabou sendo mais uma desculpa conveniente pra eu permanecer mantendo minha auto-ilusão. Nessa altura, minhas justificativas já estavam tão interiorizadas que eu poderia passar num teste de mentira se alguém perguntasse se eu era gay. Além disso, inventei pra mim mesmo que eu estava apaixonado por aquela última menina e costumava até dizer aos meus amigos que eu gostava tanto dela que era fiel mesmo a gente não estando junto, o que era conveniente pra fugir de qualquer interação social com outra menina qualquer. A falta de dinheiro, essa "paixão eterna" que inventei e minha dedicação aos estudos acabaram por se somar de forma que, no final da faculdade, já com 21, eu continuava interpretando meus sentimentos de maneira errada e esperando a "menina certa" aparecer. Acabei me tornando uma pessoa solitária e até meio amarga, cada vez eu me isolava mais, e chegou uma época que eu comecei a gostar de ser assim, por puro comodismo...

Foi então que decidi que estava na hora de fazer alguma coisa. Por mais que eu nunca tivesse me interessado por uma menina nesse período todo (apesar de estar sempre negando esses mesmos sentimentos quando eram por meninos) de forma que as coisas pudessem acontecer do jeito que eu sempre quis, comecei a pensar se isso tudo não se devia ao fato de eu ser muito tímido, e eu tinha que mudar isso nem que fosse à força. Então comecei a conversar com uma menina que conheci na internet e, um dia, numa balada, meio bêbado, a gente ficou. Dei meu primeiro beijo. Aos 21 anos. Foi a coisa mais ridícula do mundo, como todo primeiro beijo. Ela deve ter me achado bizarro. Acabamos não nos falando mais, tudo que eu queria dela era o beijo mesmo, porque, além de "romper com minha timidez" que eu achava que era o que estava me impedindo de se relacionar com meninas, aquela também era a "prova" de que eu não era gay. (Aliás, a partir dessa época, eu comecei a colecionar essas "provas"; eu me iludia de que o simples fato de estar beijando meninas provava alguma coisa.)

Quis o acaso que, pouco tempo depois, a menina do final do segundo grau voltasse a fazer parte da minha vida. Agora chegar no beijo já não era mais tão difícil. Ficamos e, depois de ela ter me intimado levemente, começamos a namorar.

Acabou sendo um namoro bem cômodo pra mim, porque morávamos em cidades diferentes, e nosso contato era pouco. Mas lembro que as poucas vezes que fui visitá-la e fiquei em sua casa, eu não me sentia nada à vontade. Eu estava tentando inventar um sentimento que nunca existiu. Uma vez ela tentou uma conversa sobre sexo, mas eu fugi do assunto e, obviamente, do ato. Era tudo muito esquisito, eu queria querer estar lá, mas meu coração me impelia no sentido contrário, e quanto mais íntimos a gente ficava, maior era minha rejeição involuntária àquela situação toda. Eu não conseguia agir naturalmente, porque nada daquilo era natural pra mim. Tudo ficou ainda mais sufocante quando ela disse que me amava. Pedi pra acabar mais ou menos quando fizemos 6 meses.

Nessa época eu estava fazendo estágio obrigatório remunerado numa cidade universitária, e foi a primeira vez na vida que eu tive acesso a uma rotina de sair, dinheiro pra fazê-lo e amigos com quem ir. Eu tinha 22 quando adotei o disfarce de hetero pegador; a rotina era encher a cara todo final de semana e agarrar geral. Só bebendo eu conseguia romper todo meu desconforto interno que me impedia até de conversar com meninas e criar as condições para um eventual beijo. Foi durante essa época que um amigo me disse que não conseguia não se apaixonar quando ficava com alguma menina legal; isso me deixou meio reflexivo, comecei a pensar que tinha alguma coisa errada comigo, porque eu não sentia nada por nenhuma delas. Nunca.

Lá conheci uma menina muito bacana com quem fiquei mais de uma vez. Sua companhia era agradável, gostávamos de sair e conversar, e acabávamos ficando quando estávamos bêbados nas festas. Mas ainda assim, ela nunca passou de uma amiga que eu beijava de vez em quando. Foi com ela, uma vez, que eu tentei ter uma relação sexual, mas nunca houve desejo algum. Não consegui.

Essa época do estágio foi de apenas 6 meses, e no final do período acabei voltando pra cidade onde fiz faculdade, e consegui um emprego. Acabei ficando com mais algumas meninas, mas sempre bêbado, e sempre fugindo da intimidade e do contato sexual. Nem sei o que passava pela minha cabeça na época, acho que eu não pensava no assunto, mas também acho que lá no fundo eu estava quebrando algumas resistências muito maiores.

Foi na formatura de uma amiga, em 2006, que tudo mudou. Eu tinha 23 quando olhei pra um cara e, de repente, senti uma vez mais tudo aquilo que eu continuava sentindo por outros caras ao longo dos anos: achei-o bonito, e queria conhecê-lo, estar junto, olhar pra ele, ouvir sua voz... mas pela primeira vez isso tudo foi tão forte que eu não pude mais negar. Eu queria fazer carinho, eu queria pegar na sua mão, eu queria abraçá-lo... e eventualmente beijá-lo. Era paixão à primeira vista, e dessa vez eu não tinha mais como disfarçar pra mim mesmo.

Não aconteceu nada naquela noite, mas ainda assim, lembro de todas as sensações que vieram junto.  "Ah, eu desisto" foi o pensamento que me ocorreu me imediato. Nunca me senti tão completo, tão feliz comigo mesmo, em toda a minha vida. Foi como tirar um grilhão que me mantinha preso, sendo que a chave estava perdida no meu bolso esse tempo todo. De repente todo o meu passado fez sentido. Finalmente aceitei meus sentimentos como eles eram, parei de inventar outros nomes pra eles, enquanto ao mesmo tempo tentava sentir coisas que eu era incapaz.

Minhas expectativas sobre um envolvimento afetivo-sexual nunca mudaram, mas foi nesse momento que eu finalmente me convenci de que estava as direcionando para o gênero errado e que eu nunca poderia viver nada disso insistindo num comportamento que não me era natural. A única coisa que mudou, nessa hora, foi que eu aceitei que minhas expectativas só seriam atendidas se vividas com alguém do gênero masculino. Foi a única adaptação que eu fiz.

Ainda demorou um ano até eu conhecer um cara. Eu não tinha pressa, e meu interesse primeiro não era sexo, eu queria alguém que entendesse o que eu sentia e quisesse compartilhar aquilo. Foi em 2007, aos 24 anos, que saí com ele. Dei o primeiro beijo que eu queria de fato dar. Ele acabou se tornando meu primeiro namorado, e foi com ele que eu tive minha primeira experiência sexual. Do jeito que eu queria. Do jeito que tinha que ser. E foi tudo incrível. Ficamos juntos durante 4 anos. Pela primeira vez eu me senti plenamente feliz, não tinha nada faltando, tudo estava no lugar certo.

Durante todo aquele tempo anterior eu fiquei com várias meninas tentando sentir alguma coisa por elas. Amor, desejo, qualquer coisa além da amizade, mas nunca aconteceu. Mas o primeiro cara que eu beijei, amei com todo meu coração. Cada pequena experiência ao lado dele foi uma nova descoberta, sobre mim mesmo, sobre a vida. Finalmente eu me sentia confortável interagindo intimamente com outra pessoa, não havia qualquer resistência interna, mas muito além disso, era BOM. Eu me sentia bem, me sentia realizado, porque não precisava inventar sentimentos ou forçar situações, foi só deixar as coisas correrem naturalmente. A felicidade surgiu espontaneamente quando todas as outras peças estavam bem encaixadas.

Eu queria viver essas experiências desde o começo da adolescência. Eu queria amar, eu queria compartilhar sentimentos, eu queria descobrir minha sexualidade desse jeito, eu sentia que já estava pronto, mas porque o mundo mentiu pra mim, passei 12 anos trilhando caminhos errados. 12 anos de uma vida finita e curta, que nunca vão voltar. Muito mais do que as experiências, nesse período eu perdi a auto-estima, o amor próprio, a espontaneidade, a sociabilidade. E esse quase foi um caminho sem volta, do qual saí porque o simples acaso (e a sorte) me trouxeram de presente as circunstâncias que me fizeram despertar.

Se eu pudesse mudar alguma coisa na minha história, gostaria que eu nunca tivesse que ter fingido ser quem eu não era. Que eu nunca tivesse sido forçado a mentir pra mim mesmo, a forma mais cruel de traição. Que eu tivesse tipo a oportunidade de ouvir meu coração e fazer as coisas do seu jeito desde o começo. Que, assim como é direito de todas as pessoas, eu tivesse podido viver minha sexualidade do jeito que eu queria e que me satisfaria, através do amor compartilhado na forma que me era natural, desde o primeiro dia.

Tenho lido muito sobre a natureza humana e descobri que só a pessoa plenamente realizada, em paz consigo mesma, tem condições de somar ao grupo de que faz parte. É, portanto, do interesse coletivo que os bons sentimentos individuais sejam respeitados, preservados e praticados. Deixem o amor estar. Em todas as suas formas. Pois ele é o sentimento que mais nos satisfaz. Nosso próprio futuro agradece.

Será que eu sei amar?

Esses tempos encontrei esse texto que discorre sobre a natureza egoísta do amor. No final, fica claro que amamos outra pessoa porque ela nos faz sentirmos como gostamos.

Então eu comecei a filosofar sobre meus últimos relacionamentos e concluí que sempre terminou porque eu deixei de amá-los. Em suma, eles não me faziam sentir como eu gostava de me sentir. Mas eu também percebi que eles continuavam me amando. Só que uma relação sem troca de afetuosidade na mesma medida não dá certo; ela tem que ser boa pra ambas as partes. Foi então que me dei conta de que, talvez, ainda que estivéssemos num clima conflituoso, eles continuavam me amando porque havia alguma coisa errada na forma como gostavam de se sentir... Aos poucos percebi que eles esperavam de um namorado uma figura quase-materna, que suprisse suas carências mais elementares e continuasse lhes tratando como crianças dependentes e incapazes de fazerem o mínimo por si mesmas. Mas não faz o mínimo sentido esperar isso de outra pessoa independente e autônoma que, a princípio, não lhe deve nada, ainda mais nesse nível de responsabilidade. Eles não eram nenhuma criança pra sair por aí procurando por outra mãe, nem eu era obrigado a adotá-los; quando eu quiser esse nível de responsabilidade, vou atrás de um filho-de-verdade. Então concluí que, no fundo, eles não sabiam como deveriam se sentir, enquanto adultos que também eram.

E o que me deixou mais pensativo... será que eu sei?

Fiz vários exercícios de imaginação pensando como resolver esse dilema. Acho que a melhor solução que encontrei foi na seguinte situação hipotética: será que eu conseguiria manter um relacionamento saudável de longa duração... comigo mesmo? Será que eu gostaria de ser tratado do mesmo jeito que eu trato os outros quando estou numa relação? Será que eu amaria a mim mesmo?

Acho que, enquanto não somos auto-suficientes para as pequenas coisas cotidianas da vida e para nossas carências afetivas, qualquer relação íntima tende a se transformar numa relação de dependência, e esse cenário é o ideal para surgirem desigualdades entre os pares, o que acaba eventualmente matando o amor de uma das partes. Talvez as pessoas até continuem juntas dado o grau de dependência ou o vínculo dominante/submisso construído, mas ainda assim, é justo? Principalmente pra quem sai perdendo?

Infelizmente nossa educação (principalmente aquela aprendida no ambiente familiar, pois tenho minhas dúvidas de que isso é sequer obrigação da escola) não nos prepara para sermos autônomos e independentes quando adultos. Os pais, despreparados para a arte de educar e sem sequer conhecer suas responsabilidades, muitas vezes colocam nos filhos seus mesmos traumas que os mantêm naquelas relações que se fundamentam em qualquer outra coisa que não amor. Mas, ainda que isso faça construir em nós uma personalidade dependente e carente, é possível corrigir isso mais tarde. É difícil, mas se pressupõe que um adulto possa fazê-lo.

Viver uma relação que se sustente apenas pelos laços mútuos de afetuosidade, que surgem espontaneamente a partir do momento em que os envolvidos entendem suas responsabilidades na vida de um - para todos os critérios - estranho, é a forma mais sublime de passar por essa experiência. Mas precisamos estar preparados pra isso.

Do texto citado no começo dessa publicação: "Amar alguém é estender a si próprio no outro." Não existe outro jeito.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Ah, coragem, essa doce ilusão!

Há alguns anos abandonei um emprego estável que pagava bem pra, de certa forma, "começar de novo". Um amigo disse que admirava minha coragem.

Coragem? Eu não me senti nada corajoso. Na verdade, essa decisão foi muito bem pensada. Apesar da estabilidade e do bom salário, não havia satisfação pessoal naquela ocupação. E teve uma hora que a alternativa passou a ser mais interessante. Vendo sob essa ótica, foi uma decisão até egoísta¹.

Na verdade, acho que a coragem nem sequer existe...

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Suponhamos que tenhamos que tomar uma decisão e tenhamos duas escolhas, A e B (ainda que a decisão B seja não-fazer-A), cujos resultados são ResA e ResB, respectivamente. Nessas horas, nós sempre avaliamos (ainda que de forma inconsciente) quais dos resultados nos parece melhor, qual nos trará maior satisfação.

Se ResA = ResB, tanto faz. Comer macarrão ou lasanha? Tanto faz, gosto de ambos.

Se ResA > ResB, escolhemos A. Vou comer macarrão porque gosto mais de macarrão.

Mas, e se mesmo ResA sendo maior que ResB, ainda assim queiramos escolher B? Aí é que entra a coragem.

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Coragem é uma ilusão que criamos pra nos empurrar pra uma decisão que consideramos, a priori, desagradável. É uma poçãozinha mágica que tomamos pra resolver um dilema em prol de uma decisão desagradável.

Seguindo no exemplo anterior, se ResA > ResB, então nós adicionamos coragem do lado direito da equação na quantidade suficiente para que, voilà! ResA < NewResB (NewResB = ResB + coragem)

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Às vezes, o que nos motiva a avaliar uma opção como pior que outra é algum tipo de inquietação interna, que pode ter uma motivação realista ou fantasiosa.

Por exemplo, pular (A) ou não (B) de paraquedas?

ResA = sentir um afluxo enorme de adrenalina que proporcionará prazer momentâneo
ResB = não sentir nada disso

Se a pessoa sente prazer ao ter a sensação de queda livre, então ela vai considerar que ResA > ResB, logo vai pular.

Mas... "e se os equipamentos falharem?" Apesar de ser uma preocupação com fundo realista (existe essa possibilidade), as estatísticas que suportam esse temor são tão desfavoráveis que o risco passa a ser irrisório. Se, ainda assim, a pessoa continuar sentindo essa inquietação (cuja motivação passa a ser então fantasiosa), então ela considera que ResA < NewResB (NewResB = ResB + inquietação). Aí, se mesmo assim ela quiser pular... CORAGEM! ResA > NewNewResB (NewNewResB = ResB + inquietação + coragem)

(Às vezes a motivação fantasiosa é um trauma, cuja origem é desconhecida, e nesses casos a inquietação não consegue ser explicada.)

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Apesar de ser uma ilusão, a coragem é considerada uma virtude. É aí que mora o problema.

No caso do salto de paraquedas, considere que, por exemplo, está chovendo. Então, pular não parece uma boa ideia de forma alguma, já que o risco é MUITO alto. Quando usada para negar a realidade, a coragem é pura inconsequência.

Ela também às vezes é usada como justificativa para cometermos um ato imoral, como quando uma criança incita a outra a cometer um pequeno ato de maldade (quebrar uma vidraça, por exemplo) botando em dúvida sua coragem. Em casos mais extremos e complexos, ela é justificativa extremamente conveniente para atos que prejudicam outras pessoas e ainda assim parecer nobreza (já que todo mundo quer, no fundo, parecer nobre), quando, por exemplo, o sargento estimula coragem nos soldados durante uma guerra.

Por fim, ela pode ser usada como justificativa para o narcisismo. No caso que eu citei no começo do texto, por exemplo, eu já havia chegado à conclusão de que sair do meu emprego (A) era melhor do que ficar nele (B), porque havia a insatisfação na conta. Então, "começar de novo" já trazia embutida a ideia de que eu estava apenas fazendo algo que me traria maior satisfação.

NewResA = ResA (sair do emprego) + maior satisfação
NewResB = ResB (ficar no emprego) + salário + estabilidade

E a minha conclusão foi que NewResA > NewResB. Não faz o mínimo sentido botar coragem na fórmula.

Se, nessa situação, eu aceito o adjetivo corajoso, estou apenas mascarando minha real motivação, que era maior satisfação, e chamando isso de virtude, quando não há virtude alguma envolvida. De novo, foi uma decisão com fundo egoísta, e egoísmo não é virtude.

Chamar uma atitude egoísta de coragem só serve para alimentar nosso monstrinho interno insaciável que vai pelo nome de Ego.

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¹ o egoísmo não é necessariamente ruim. mais em breve.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Quem sou? Quem estou?

Muitas pessoas confundem o que é parte de sua natureza e o que não é. Por exemplo, sou loiro, sou canhoto, sou baixo, sou ansioso, sou teimoso e sou ciumento. Quais dessas características fazem de fato parte de minha essência, de minha identidade, e quais não?

Minha proposta é simples: tudo aquilo que não precisa de uma ação para ser definida, ou seja, que se define por si, é o que eu chamo de condição, e faz parte de nossa natureza, de nosso ser. Por exemplo: sou loiro, e ainda que eu esteja no escuro ou ainda que eu pinte o cabelo, continuarei sendo, por natureza, loiro. Sou canhoto, e ainda que eu não esteja usando as mãos ou que eu segure uma caneta com a mão direita, continuarei sendo, por natureza, canhoto. Sou baixo, e ainda que eu esteja falando com alguém pelo telefone ou que eu use um calçado com plataforma continuarei sendo, por natureza, baixo.

Em contrapartida, tudo que precisa de uma ação no ambiente ao redor para existir, ou que seja motivado pelo ambiente, é comportamental, é parte de nossa personalidade, e, portanto, não faz parte de nossa natureza; é uma construção mental que fazemos sobre nós mesmos e não faz parte de nosso ser, mas de nosso modo de ser. Por exemplo: sou ansioso, mas eu só sou ansioso se uma situação despertar essa sensação; quando estou dormindo, não o sou. Sou teimoso, mas eu só sou teimoso quando contrariado; quando estou assistindo televisão, não o sou. Sou ciumento, mas eu só sou ciumento quando vejo alguém conversando com minha namorada; quando estamos só os dois, não o sou.

Portanto, qualquer característica de nossa personalidade não faz parte de nosso ser, mas do nosso modo de ser, o qual não é fixo e eterno. Por isso gosto de dizer que o modo de ser designa nosso estar, aquelas características que, por mais que estejamos acostumados a portar, são passíveis de mudança (ainda que isso nem sempre seja fácil), e portanto indicam antes como estamos, e não como somos.

Infelizmente, a sociedade nos ensina a fazer algumas inversões, quando nos impõe padrões de condição, anulando todas as nossas diferenças intrínsecas, o que gera por tabela a ideia de que personalidade é o que de fato nos torna diferentes. Dessa forma, as condições passam a ser passíveis de melhorias (o que estimula o consumo, mas deixemos isso de lado), enquanto que os comportamentos, uma vez que encarados inconscientemente como inatos, ganham status de tolerância e aceitação.

É essa distorção que explica porque algumas pessoas não conseguem encarar uma crítica às suas atitudes como uma possibilidade de melhoria, mas a entendem como uma afronta pessoal. Elas de fato acham que seu comportamento é parte de sua essência, por isso a crítica ganha uma conotação completamente pessoal, passa a ser uma agressão a sua própria identidade (quando, de fato, não é). Isso também explica porque algumas pessoas se sentem no direito de emitir "opinião" sobre uma condição; no fundo elas encaram a condição como um comportamento sendo, portanto, passível de avaliação moral. Mas, nesses casos, a crítica passa sim a ser um ataque pessoal, porque é uma agressão à identidade daqueles que a portam.

Deviam ensinar essas coisas na escola, acho que seria um belo começo pra construção de um mundo melhor...

terça-feira, 10 de setembro de 2013

"Eu sou a norma"

Você já percebeu que às vezes, outras pessoas tomam atitudes que aos nossos olhos parecem estúpidas, malucas ou burras?

Por exemplo:
"Como aquela mulher pode ficar com aquele cara abusivo? Deve ser muito burra."
"Como aquele cara pode dar todo o seu dinheiro pra um pastor mercenário? Deve ser maluco."
"Por que ele continua fazendo as coisas do jeito errado? Deve ser estúpido."

***

Todas as nossas ações são uma forma de expressão de nossa personalidade. Acontece que temos o costume de imaginar que todas as outras pessoas são como a gente, que pensam como a gente, que suas motivações são as mesmas que as nossas e portanto, é óbvio que elas sabem que estão sendo estúpidas, malucas ou burras. Afinal de contas, "eu saberia".

"Eu sou a norma."

Mas não é assim que funciona.

A personalidade é uma construção mental, é uma resposta a padrões de pensamento que começam a se formar desde o dia em que nascemos, como resposta ao ambiente onde nos desenvolvemos. São as experiências pessoais por que passamos que vão formar o tipo de pessoa que somos. Por exemplo: se crescemos num lar desestruturado, se nossos pais (nosso primeiro contato com o mundo) não se mostram pessoas confiáveis, vamos imaginar que todas as pessoas não são confiáveis, e esse padrão de pensamento se forma e se solidifica, ainda antes mesmo de termos palavras para descrevê-lo, no fundo de nosso subconsciente. Então, criamos uma personalidade desconfiada como resposta a esse estímulo ambiental, como forma de defesa a um mundo que consideramos ser hostil.

Como as experiências pelas quais passamos individualmente são as mais diversas, assim também são as personalidades. Então, é de se esperar que aquela pessoa cuja atitude nos parece inapropriada está apenas agindo de acordo com sua visão de mundo; na cabeça dela, suas ações são totalmente justificadas, ainda que de forma inconsciente. Por mais que sejam, de algum ponto de vista, ruins, seja para a própria pessoa, seja para terceiros. Cada um tem suas razões para agir do jeito que age.

***

"Se aquela pessoa fez|não-fez uma coisa (que eu considero) idiota|fenomenal é porque ela é uma idiota (porque todo mundo pensa como eu). Logo, por não-fazer|fazer a mesma coisa na mesma situação, eu sou fodão."

Esse raciocínio cuja própria fundamentação está errada só serve pra alimentar nosso monstrinho interno insaciável chamado Ego.

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Considerar que as pessoas sabem que estão agindo mal, sobretudo quando assumem uma personalidade submissa e sua ação prejudica a si mesma, é um grande problema, porque dessa forma justificamos injustiças que decorrem de seus comportamentos. Por exemplo: ela merece ser abusada, pois é burra. Ele merece ser explorado, pois é maluco. Ele merece se dar mal na vida, pois é estúpido. E assim, validamos a ideia de que "o mundo é dos espertos", isentando os exploradores de responsabilidade sobre suas ações.

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Quando me dei conta disso tudo, de repente comecei a divagar... então, quem garante que o maluco não sou eu? Se tudo que faço tem uma justificativa interna, como ter certeza de que não sou eu que estou tomando atitudes estúpidas, malucas ou burras? Pois aos olhos de alguém, elas de fato são. Deve haver uma "personalidade padrão" que serve como guia na hora de interpretar as atitudes das pessoas, mas quais as garantias de que sou eu quem a possui?

Tenho um palpite sobre o que seria a "personalidade padrão". Mas acho que partir do princípio de que, talvez, não seja a minha, já é um bom começo.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Eu quero uma pra viver...

Definições: 

Ideologia é um conjunto teórico de ideias expresso por palavras.

Cultura é como expressamos aquilo em que de fato acreditamos (portanto além do véu da retórica) com comportamentos, sobretudo direcionado aos outros.

Quando a ideologia não corresponde à cultura, vemos nascer um pequeno monstrinho chamado hipocrisia.

(Sim, até onde me cabe as definições são minhas, mas são nesse contexto que vou usar.)

***

O ambiente familiar é o principal responsável pela formação de nossa personalidade. Muito mais do que a ideologia, adotamos inconscientemente a cultura desse ambiente, adaptando nossas respostas aos (e depois copiando os) comportamentos dos pais/cuidadores. Não, não adianta nada o pai dizer uma coisa e fazer outra; a criança tende a adotar comportamentos compatíveis com o que sente do ambiente ao seu redor. São as atitudes que serão levadas em conta pela criança, não o discurso. Isso acontece porque, inconscientemente, a criança usa como referência na formação de seu caráter aquele que lhe provém segurança e que lhe faz se sentir bem consigo mesma (que lhe ama, enfim). Nesse contexto, a hipocrisia é uma péssima ferramenta educacional, porque a criança vai achar que a base do amor é a mentira, e isso vai ensiná-la a mascarar e justificar comportamentos errados. (E bem por isso o amor verdadeiro é a melhor, mas esse é um assunto muito maior.)

Mais tarde na vida, eventualmente, vamos chegar à conclusão de que aquela ideologia inicial não é mais coerente com a pessoa em que nos transformamos. E então, vamos procurar outra ideologia, que seja compatível com nosso modo de ser.

Aí mora o perigo. O ser humano, quando munido de vícios derivados do egocentrismo, vai procurar uma ideologia que justifique e, mais do que isso, enobreça seus defeitos. Daí saem abominações como chamar corrupção de esperteza, chamar possessividade de amor, chamar falta de respeito para com as mulheres de masculinidade, chamar a luta por direitos LGBT de defesa da família... Isso acontece porque, lá no fundo, o ser humano tem a necessidade de ser nobre, independente dos vícios e virtudes que carregue. Mesmo que esteja errado, mesmo que seja hipócrita ("a base do amor é a mentira", lembra?) e antiético, mesmo que esteja propagando agressões físicas e psicológicas, direta ou indiretamente, a outras pessoas, ele vai adotar uma ideologia que transforme isso tudo em nobreza, porque todo mundo quer parecer nobre. Ninguém é o vilão em sua própria história.

Por isso, às vezes, penso que é um risco enorme à própria existência humana permitir que algumas ideologias trafeguem livremente. Se ela é segregadora, discriminatória, fomentadora de preconceito e de violência e ainda recebe um selo que a transforma em nobreza, as pessoas que de fato acreditam nela e a colocam em prática às vezes nem se dão conta de que estão erradas, de que é esse sistema de ideias que está alimentando conflitos e dificultando as relações humanas, de que o problema é com elas e não com os outros, e de que, ainda por cima, podem estar prejudicando a si próprias - se eu passo a chamar meus defeitos de virtudes, essa não é uma realidade difícil de antever.

As ideologias mais nocivas são aquelas que buscam transformar condições humanas específicas em pré-requisitos para uma suposta superioridade que não existe. São elas as responsáveis por todo tipo de preconceito e quase todo conflito social, desde que o mundo é mundo, pois legitimam essa concepção deturpada da existência humana (que eu chamo de "eu sou melhor do que você, porque sim"). Essa história se repete há milênios, mudando apenas os atores e os cenários (as pessoas se escravizam desde as comunidades tribais, não é mesmo?), porque independentemente do momento histórico, o ser humano segue uma programação básica ditada pelos mecanismos inconscientes que governam sua personalidade e, por conseguinte, suas ações, que não mudaram muito desde nossa última grande evolução mensurável, portanto muito antes da primeira vez em que as pessoas resolveram se organizar em comunidades coletivas.

Isso tudo se torna muito mais grave quando uma ideologia assim recebe o nome de religião. Basta usar o nome de Deus, qualquer que ele seja, para que esses sistemas de ideias sejam intocáveis, inatacáveis, indiscutíveis, inarguíveis, e para que todo tipo de ideologia da superioridade possa transitar sob a proteção da liberdade religiosa, da liberdade de crença. Como se acreditar que se é superior por condições que lhe foram concedidas pela natureza por um mero acaso, e, assim, exercer e pregar preconceito, estivesse incluso no conceito de liberdade...

Em nome de uma pretensa liberdade que extrapola sua jurisdição, que passa a englobar o direito de julgar condições humanas diferentes das nossas como inferiores e de, pior, interferir na vida particular alheia, estamos criando conflitos que não existem de forma natural. O ser humano, nessa insana tentativa de se provar superior aos seus semelhantes, vai aniquilar a si próprio.

O mundo deveria ser o mais inclusivo possível, e só nesse cenário eu consigo ver alguma esperança de paz natural, de respeito mútuo. Só nesse cenário consigo imaginar uma sociedade colaborativa e verdadeiramente progressista, que deixe suas diferenças de lado e que caminhe na mesma direção. Mas isso nunca vai acontecer enquanto as pessoas continuarem a chamarem de nobreza as piores características de sua personalidade.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Quem somos nós?

As grandes religiões nos vendem a ideia de que o ser humano é uma criatura especial, de extrema importância no grande plano universal, e cujas necessidades estão acima daquelas das demais criaturas. Eu considero esse raciocínio uma tentativa de justificar o egocentrismo humano como algo bom, quando não divinamente concedido, dessa forma validando o direito de nos colocarmos acima do resto do mundo. Isso fica ainda mais evidente quando algumas pessoas se julgam mais especiais que outras, e dividem as próprias pessoas nas mais diferentes categorias de forma a poder justificar, com os argumentos mais diversos, seu senso de superioridade sobre os demais. (O egocentrismo é um monstro que, se alimentado, perde o controle e consome a todos, por dentro e por fora. Mas esse é assunto pra outra hora.)

Considero pensar dessa forma uma grande besteira, se não uma forma meio arrogante de se posicionar perante Tudo. Pra começo de conversa, o Universo é infinito e não temos a mínima garantia de que somos a única espécie sapiente. Mas, ainda que fôssemos, a ciência levanta cada vez mais argumentos a favor de que somos apenas um animal que deu a sorte de evoluir mais que os demais a ponto de desenvolver senso de consciência de si mesmo. Pra alguns, entretanto, isso já é argumento pra nossa superioridade. Mas quem disse que inteligência tem toda essa relevância? A própria história da Terra é ausente de inteligência durante a grande maioria de sua existência, e se virou muito bem obrigado. O ser humano, ó tão inteligente, foi e ainda é responsável pelas maiores atrocidades contra sua própria espécie e contra o planeta. E quando nosso ciclo se encerrar, de forma natural ou auto-imposta, o Universo seguirá seu curso, indiferente e alheio.

Diante da infinitude e da magnitude do Universo, somos um mero detalhe. No momento em que tomamos consciência do quanto esse Universo independe da nossa existência, é impossível pensar diferente. Mas, por outro lado, quando percebemos que somos insignificantes, ao mesmo tempo percebemos que tudo é insignificante. Nenhuma criatura vale mais que a outra, nem sequer a matéria inorgânica, nos planos universais, planos esses que nem sabemos quais são, e possivelmente nunca saberemos. Conquanto ínfima, a relevância de todas as coisas é a mesma. E bem por isso, ainda que insignificante, tudo é relevante, tudo é necessário. Se não, não estaríamos aqui.

O Universo é sábio ao estabelecer um equilíbrio entre tudo que existe. Esse equilíbrio é importante para manter Tudo em curso. E a vida é o equilíbrio mais frágil e mais belo que existe. (Imaginem: moléculas se dispondo de forma aleatória mas organizada até que, voilà, temos uma criatura capaz de pensar, sentir e interagir com o mundo que o cerca de forma autônoma! Isso é lindo!) Preservar esse equilíbrio é do interesse de todas as criaturas, inclusive do nosso. E é justamente na compreensão dessa verdade que reside o auge de nossa capacidade de raciocínio: desarmar nosso intelecto desse egocentrismo inventado (e validado pela cultura) e reconhecer que, ainda que sejamos apenas mais um peão nesse tabuleiro, nele só existem peões, mas a inteligência traz junto uma responsabilidade muito maior.

A inteligência é um grande dom, mas somente quando munida de humildade. Reconhecer nas outras criaturas (e nas outras pessoas) uma imagem de si mesmo - uma das grandes verdades universais -, é o primeiro passo necessário para usar nosso intelecto a favor do bem comum e da verdadeira evolução humana, aquela que seja boa para todos. Quando motivada por egocentrismo, a inteligência é um perigo, e os grandes ditadores autoritários estão aí pra provar. O egocentrismo, inclusive, é contraproducente; num mundo com 7 bilhões de egocêntricos, somos todos inimigos uns dos outros, e esse cenário é o ideal para a auto-aniquilação. O que há de racional nisso?

Somente com um coração leve e humilde, que reconheça a beleza de sua insignificância mas igual relevância no grande plano, podemos usar aquilo que a natureza nos concedeu de graça, por mero capricho, para a construção de um mundo realmente evoluído.