terça-feira, 10 de setembro de 2013

"Eu sou a norma"

Você já percebeu que às vezes, outras pessoas tomam atitudes que aos nossos olhos parecem estúpidas, malucas ou burras?

Por exemplo:
"Como aquela mulher pode ficar com aquele cara abusivo? Deve ser muito burra."
"Como aquele cara pode dar todo o seu dinheiro pra um pastor mercenário? Deve ser maluco."
"Por que ele continua fazendo as coisas do jeito errado? Deve ser estúpido."

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Todas as nossas ações são uma forma de expressão de nossa personalidade. Acontece que temos o costume de imaginar que todas as outras pessoas são como a gente, que pensam como a gente, que suas motivações são as mesmas que as nossas e portanto, é óbvio que elas sabem que estão sendo estúpidas, malucas ou burras. Afinal de contas, "eu saberia".

"Eu sou a norma."

Mas não é assim que funciona.

A personalidade é uma construção mental, é uma resposta a padrões de pensamento que começam a se formar desde o dia em que nascemos, como resposta ao ambiente onde nos desenvolvemos. São as experiências pessoais por que passamos que vão formar o tipo de pessoa que somos. Por exemplo: se crescemos num lar desestruturado, se nossos pais (nosso primeiro contato com o mundo) não se mostram pessoas confiáveis, vamos imaginar que todas as pessoas não são confiáveis, e esse padrão de pensamento se forma e se solidifica, ainda antes mesmo de termos palavras para descrevê-lo, no fundo de nosso subconsciente. Então, criamos uma personalidade desconfiada como resposta a esse estímulo ambiental, como forma de defesa a um mundo que consideramos ser hostil.

Como as experiências pelas quais passamos individualmente são as mais diversas, assim também são as personalidades. Então, é de se esperar que aquela pessoa cuja atitude nos parece inapropriada está apenas agindo de acordo com sua visão de mundo; na cabeça dela, suas ações são totalmente justificadas, ainda que de forma inconsciente. Por mais que sejam, de algum ponto de vista, ruins, seja para a própria pessoa, seja para terceiros. Cada um tem suas razões para agir do jeito que age.

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"Se aquela pessoa fez|não-fez uma coisa (que eu considero) idiota|fenomenal é porque ela é uma idiota (porque todo mundo pensa como eu). Logo, por não-fazer|fazer a mesma coisa na mesma situação, eu sou fodão."

Esse raciocínio cuja própria fundamentação está errada só serve pra alimentar nosso monstrinho interno insaciável chamado Ego.

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Considerar que as pessoas sabem que estão agindo mal, sobretudo quando assumem uma personalidade submissa e sua ação prejudica a si mesma, é um grande problema, porque dessa forma justificamos injustiças que decorrem de seus comportamentos. Por exemplo: ela merece ser abusada, pois é burra. Ele merece ser explorado, pois é maluco. Ele merece se dar mal na vida, pois é estúpido. E assim, validamos a ideia de que "o mundo é dos espertos", isentando os exploradores de responsabilidade sobre suas ações.

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Quando me dei conta disso tudo, de repente comecei a divagar... então, quem garante que o maluco não sou eu? Se tudo que faço tem uma justificativa interna, como ter certeza de que não sou eu que estou tomando atitudes estúpidas, malucas ou burras? Pois aos olhos de alguém, elas de fato são. Deve haver uma "personalidade padrão" que serve como guia na hora de interpretar as atitudes das pessoas, mas quais as garantias de que sou eu quem a possui?

Tenho um palpite sobre o que seria a "personalidade padrão". Mas acho que partir do princípio de que, talvez, não seja a minha, já é um bom começo.

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