sábado, 14 de setembro de 2013

Será que eu sei amar?

Esses tempos encontrei esse texto que discorre sobre a natureza egoísta do amor. No final, fica claro que amamos outra pessoa porque ela nos faz sentirmos como gostamos.

Então eu comecei a filosofar sobre meus últimos relacionamentos e concluí que sempre terminou porque eu deixei de amá-los. Em suma, eles não me faziam sentir como eu gostava de me sentir. Mas eu também percebi que eles continuavam me amando. Só que uma relação sem troca de afetuosidade na mesma medida não dá certo; ela tem que ser boa pra ambas as partes. Foi então que me dei conta de que, talvez, ainda que estivéssemos num clima conflituoso, eles continuavam me amando porque havia alguma coisa errada na forma como gostavam de se sentir... Aos poucos percebi que eles esperavam de um namorado uma figura quase-materna, que suprisse suas carências mais elementares e continuasse lhes tratando como crianças dependentes e incapazes de fazerem o mínimo por si mesmas. Mas não faz o mínimo sentido esperar isso de outra pessoa independente e autônoma que, a princípio, não lhe deve nada, ainda mais nesse nível de responsabilidade. Eles não eram nenhuma criança pra sair por aí procurando por outra mãe, nem eu era obrigado a adotá-los; quando eu quiser esse nível de responsabilidade, vou atrás de um filho-de-verdade. Então concluí que, no fundo, eles não sabiam como deveriam se sentir, enquanto adultos que também eram.

E o que me deixou mais pensativo... será que eu sei?

Fiz vários exercícios de imaginação pensando como resolver esse dilema. Acho que a melhor solução que encontrei foi na seguinte situação hipotética: será que eu conseguiria manter um relacionamento saudável de longa duração... comigo mesmo? Será que eu gostaria de ser tratado do mesmo jeito que eu trato os outros quando estou numa relação? Será que eu amaria a mim mesmo?

Acho que, enquanto não somos auto-suficientes para as pequenas coisas cotidianas da vida e para nossas carências afetivas, qualquer relação íntima tende a se transformar numa relação de dependência, e esse cenário é o ideal para surgirem desigualdades entre os pares, o que acaba eventualmente matando o amor de uma das partes. Talvez as pessoas até continuem juntas dado o grau de dependência ou o vínculo dominante/submisso construído, mas ainda assim, é justo? Principalmente pra quem sai perdendo?

Infelizmente nossa educação (principalmente aquela aprendida no ambiente familiar, pois tenho minhas dúvidas de que isso é sequer obrigação da escola) não nos prepara para sermos autônomos e independentes quando adultos. Os pais, despreparados para a arte de educar e sem sequer conhecer suas responsabilidades, muitas vezes colocam nos filhos seus mesmos traumas que os mantêm naquelas relações que se fundamentam em qualquer outra coisa que não amor. Mas, ainda que isso faça construir em nós uma personalidade dependente e carente, é possível corrigir isso mais tarde. É difícil, mas se pressupõe que um adulto possa fazê-lo.

Viver uma relação que se sustente apenas pelos laços mútuos de afetuosidade, que surgem espontaneamente a partir do momento em que os envolvidos entendem suas responsabilidades na vida de um - para todos os critérios - estranho, é a forma mais sublime de passar por essa experiência. Mas precisamos estar preparados pra isso.

Do texto citado no começo dessa publicação: "Amar alguém é estender a si próprio no outro." Não existe outro jeito.